O roubo no casamento – Uma
história verídica
Escritora Cidinha Lima –
46 anos – Xucuru
Faz uns vinte anos, ainda
trago na memória o dia do meu casamento, eu morava no sitio Quandus e casei na igreja com padre e tudo em Xucuru, distrito
de Belo Jardim. Casamento marcado para as quatro da
tarde, mas atrasou como sempre.
Quando eu fui pra igreja
casar a família de minha madrasta ficou em casa preparando as comidas da festa.
Comprei macarrão e
arroz e a carne de porco e galinha de capoeira eu já criava no quintal.
Eles agarraram quase toda comida e levaram pra
casa do sogro do meu pai. Os convidados chegaram. Naquela época o convite era
feito nos programas de rádio. Veio muita gente e pouca comida. Como estava
quase todo mundo bêbado nem notaram a falta da carne.
Eu sei que eles roubaram a
comida. Eles não gostavam de mim. Queriam me escravizar. Eu trabalhava muito,
arrumava a casa, lavava roupas, cozinhava e nem uma roupa para vestir eu
ganhava. Até as cabras que a minha mãe me deixou elas venderam. Fiquei
revoltada.
E quando chegamos à noite
só tinha osso de galinha de capoeira e eu tive que comer os ossos, pois estava
com fome. Eu já tinha dois filhos com meu marido, mas a gente queria uma Lua de
Mel bem bacana. Fomos dormir, com fome, mas rindo muito.
- Cidinha Lima é mãe de uma
aluna minha. Agricultora, 46 anos, estudou até a quarta série primária,
evangélica destas bem fundamentalistas. Este texto veio cheio de erros de
digitação. Ela contou esta história pela internet e fomos conversando. É a
minha primeira oficina no Facebook. Cidinha é cheia de boas histórias, algumas
tristes, de uma vivência nada fácil de uma família pobre do interior. Um livro
vivo. Fiz algumas correções e tive apenas o trabalho de trocar parágrafos. Ela
aprovou. Publico aqui principalmente para mostrar que todos nós temos boas histórias
para contar.