segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

A camisola e a felicidade
Escritora Patrícia Lima – 18 anos – Belo Jardim

        Houve um tempo em que mocinhas bem comportadas se casavam por amor. O vestido branco era símbolo de pureza.
       Todos os dias, nos finais da tarde, Ana Maria se trancava no quarto e ficava em silêncio. Via-se apenas a luz do candeeiro por debaixo da porta.
       Com a aproximação do dia do casamento Ana estava se dedicando a costurar o vestido branco.  Passaram-se dois dias e ela não saía do quarto.
       Quando os pais de Ana abriram a porta, lá estava o vestido inacabado e junto dele uma carta, que dizia:
       - Eu nunca me interessei por quaisquer regras dos bons costumes. Vocês sabem disso. Durante todo este tempo tentei fazer o vestido. Não consegui. Fiquei passando o ferro de brasas na minha camisola que guardei para o dia do casamento. Não preciso de um vestido para ser feliz e o meu noivo é rico e sempre vai me dar de tudo, a camisola me basta. Estou bem, se quiserem me visitar, apareçam naquela casa grande amarela onde mora meu marido que apresentei a vocês. Com amor, Ana.
      Os pais de Ana Maria decidiram visitá-la. Perguntaram por que ela tinha tomado àquela decisão de não casar na igreja, aos pés do padre.
      Ana lembrou que um dia na infância, eles disseram que quando a felicidade bate a porta, não se deve deixar escapar, “foi isso que eu fiz. A felicidade bateu na minha porta e eu a segurei, o vestido ainda não estava pronto, mas a camisola estava. Selei minha felicidade com ela mesma”.
      Muitos anos depois de vários casamentos e agora uma viúva rica, Ana Maria está com 70 anos, sempre de roupa vermelha, e vive nas estradas pilotando uma moto incrementada.

*
Patrícia Lima é aluna da Escola Municipal Luiza Leopoldina Lopes. Fica no Distrito de Xucuru, na Zona Rural da cidade de Belo Jardim, Agreste pernambucano. O conto acima, a partir da palavra “camisola”, surgiu na Oficina que realizamos outubro em apenas um dia na Escola Agrícola. Depois continuamos pela internet, via MSM, a estudá-lo. Cerca de quinze mudanças, muita paciência e só agora no dia de natal a Patrícia deu por encerrado. O que antes parecia piegas na verdade é uma provocação aos velhos e novos hábitos. Muito bom. 


Um comentário:

  1. O que é a felicidade? De repente pode ser ter uma camisola pronta, né Patrícia? Legal o seu conto, no final vc mostra o inesperado, as pessoas mudam e a felicidade também...

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